Temos pena. Hoje não.

dezembro 31, 2009

E levou-as.
Um sopro de Luz e o Eterno Amor-Próprio levaram-nas.
As penas, leves como o vento, são sempre tão fáceis de voar.
Penas, leva-os o vento.


Deixa o vento soprar.

dezembro 27, 2009

E depois chegavas.
Depois de todas aquelas vezes em que o telefone tocava o som de uma mensagem e não eras tu.
Chegavas e era madrugada dentro. Estava frio, muito frio lá fora e tu, encharcado, tocavas à porta e quando eu abria tu sorrias e dizias que ali estavas há horas, com medo de tocar, com medo de me tocar.
E depois chegavas. Chegavas mais perto, chegavas tão perto que já te sentia e sabia o que nos esperava em seguida, mas tu esperavas e adiavas a entrega que trazias nos olhos, a saudade que trazias nos lábios e o desejo que trazias nas mãos.
E depois chegavas, chegavas tão perto que já nem tu sabias, que já nem tu querias guardar mais essa inútil distância, e sem palavras tomavas o comando das circunstâncias e em silêncio, como tão bem sabes fazer, tomavas-me a mim.
Tu chegavas, por fim tu chegavas.
Mas eu acordei.

novembro 26, 2009

E tudo.

Eu sei.

E tudo o vento vai levar.

novembro 23, 2009

Queria.
Queria muita coisa.
Queria querer-te.
Queria que me quisesses.
Queria o ar, o mar, o fogo, o sol, as estrelas.
Queria as viagens, as chegadas e as limonadas.
Queria estar, ficar, partir, seguir.
Queria escutar e queria ouvir.
Queria, mas mais do que querer desejava.
Desejava amar a querer sempre mais e a sorrir.

novembro 22, 2009

Um dia.
Um dia pode ter sido ontem, hoje ou amanhã. Quem sabe?
Adiar o possível, mantê-lo impossível é talvez brincar com a realidade.
Um dia. Tudo um dia. Talvez um dia.
Um dia que talvez não chegue. Um dia que talvez já tenha existido mas que nunca foi verdade.

novembro 19, 2009

E se eu dissesse que não existimos, que somos uma ficção que ainda nem foi inventada ou o mero capricho de um deus?
Que me dirias? Que é impossivel não existir quando se ama e sofre assim?

novembro 17, 2009

O tempo desfragmentou-se em mil bocados e os segundos estilhaçaram-se em mil pedacinhos.

O passado foi projectado de encontro ao chão e o futuro explodiu em toda a sua imensidão.

Não sobrou minuto sobre minuto.

Perante a perplexidade de quem estava, o presente deitou mãos à obra e, baixando-se na sua humildade de quem sabe que o passado só se remenda e o futuro sempre se reconstroi, juntou peça por peça, sem se preocupar com o que o tempo lhe iria cobrar.

Houve quem duvidasse. Porque há sempre quem duvide.
Houve quem zombasse. Porque há sempre que humilhe...

Mas só que esteve e viu sabe que o presente nunca desistiu.

novembro 16, 2009

Não precisas de mim nem eu de ti.
Eu sei.
Sem bem que passamos um sem o outro.
É assim desde a eternidade e assim será para sempre.

Não precisas de mim nem eu de ti.
Temos-nos e é quanto basta.
Sabemo-nos de cor mesmo que não nos encontremos, sequer numa esquina do tempo.
Não precisas de mim nem eu de ti.

Eu sei.
Sei que sabemos quase tudo sem dizer quase nada.
Adivinhamo-nos e é isso que nos torna feiticeiros nesta arte de amar sem amor.
Não precisas de mim nem eu de ti.

Eu sei.
Tu sabes.
E ambos sabemos que é exactamente isso que nos torna maiores.

novembro 15, 2009

Que queres te diga?
Que gosto quando me aprisionas o olhar, me encostas à parede e me deixas sem margem de manobra?
Que me apaixono sempre que resvalamos, que nos seduzimos e amamos?
Que é bom quando me tens, por inteiro como se fossêmos apenas chama?
É isso?
E depois, e depois que sobra?
Depois daquele olhar, daqueles corpos, daqueles lugares, daquelas horas, quando depois e só depois dizes que me amas...

Que queres que te diga?


novembro 14, 2009

Não.
Não venho aqui falar do que sinto por ti. Das horas, dos minutos, dos segundos em que te sonho, em que nos sonho, em que acordo e recordo.
Não, não venho aqui falar dos momentos que desejo e em que que te desejo, que percorro cada pedaço teu, em que me encontro e reencontro em gestos, palavras e silêncios e momentos que são só meus.
Não, não venho aqui falar de sonhos, de projectos ou futuros. Muito menos de presentes. Daqueles, daqueles que não se compram só no Natal, que têm o ano inteiro, uma vida inteira para se dar.
Não, não venho aqui falar de pequenos-almoços de Domingo, de cheiro a torradas, a sumo de laranja acabado de fazer, a manteiga nas mãos e nas almofadas e em tudo o que apetece comer.
Não, não venho aqui falar de tardes de infindáveis conversas à lareira, de jantares fora de horas, de promessas sussurradas, de sorrisos que não precisam dizer mais nada porque tudo já se sabia desde um inicio que parece não ter fim.
Não, não venho falar da vida, do quanto custa, de quanto se tem de lutar, não desistir e acreditar.
Não, não venho aqui falar de mim.
Nem de ti.
E muito menos de nós.
Não venho.
Mas queria.

Mais um...

com muito de mim.